domingo, 29 de junho de 2008

Jean Seberg

Aqui também jaz Jean Seberg.


(...)"Tive encontros com ela no meu quarto, em casa dela ou num café.
Eu observava pela janela a neve que caía no pátio.
Fiz um filme com a Jean.Filmava o rosto dela.
Às vezes a Jean chorava. Eu ficava parado por trás da câmara.
A Jean era actriz do Actor's Studio e improvisava psicodramas.
Eu filmava apenas o rosto dela, tornando assim secretas as condições da filmagem.
Quando acabei esse retrato entreguei à Jean uma primeira montagem do filme dela, e ela gostou muito. A Jean já tinha rodado muitos filmes, mas dava-lhe prazer ter um filme que lhe era inteiramente dedicado. No fundo nesse filme via-se a alma dela, que era muito bonita.

A Jean escreveu um argumento: «E agora já posso falar da Aurélia». Também escreveu poemas que vieram a ser publicados. Ela identificava-se cada vez mais com a Aurélia de Nerval, que ela queria representar à maneira moderna, e com Joana de Arc porque ela tinha interpretado a Joana de Arc dos Americanos.

A Jean teve uma depressão nervosa. Foi internada num hospital. Os electrochoques qye a obrigaram a suportar tiveram consequências trágicas.

Eu estava a regressar a pé dos laboratórios de cinema que ficavam nos subúrbios. Vinha a caminhar ao longo do rio. Era o fim do Verão. Alguns pescadores perfilavam-se em contraste com o sol que se estava a pôr.
Atravessei a feira da ladra pela Porta de Clignancourt, tinha acabado um filme novo e exultava de felecidade por me ter libertado dele. E de repente, por acaso, deparo com uma foto de Jean na primeira página de um vespertino que estava no passeio. «Jean Seberg suicidou-se»"


excerto, de "Jean Seberg" por Philippe Garrel , in "Journal d'un cinéaste" (1984)"




Um diário. Uma narrativa em silêncio interior.

Tal como os filmes

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