sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Meu Caro Miguel:

Escrevo-te de um país longínquo - a Várzea dos Amarelos.
Daqui a uns dias, neste querido mês de Agosto, o "Senhor dos Aflitos" (que é como nós todos estamos - por amores ou desamores) vai passar em frente ao Coreto de Maçãs de D. Maria, que eu filmei há 32 anos.

Ao ver o teu filme lembrei-me da minha mãe (com os seus cantos e descantes) e do Diogo, nos meus ombros. Como o tempo passa!
É esse Portugal - "nosso remorso", como disse o O''Neil - que passa também no teu filme; "ladino como um pardal" e, no fundo, melancólico, apesar do "progresso" do Prof. Cavaco.

Há uma sequência - a final (a tua discussão com o Vasco Pimentel) - que me confirma o que sempre pensei de ti como cineasta: não és cego aos sons nem surdo às imagens.
Vendo "Aquele Querido Mês de Agosto" acho que Portugal - finalmente! - ganhou a estafeta dos 40 anos de uma cinematografia; que é tão estranha que do documentário faz ficção e do real faz imaginário.

O testemunho foi-te passado - desde "Os Verdes Anos" até aos "Lisboetas" - vê lá se me ganhas uma medalha de pódio...
Se Deus quiser - e se tu fores fiel a ti próprio - havemos de lá chegar (apesar dos sociólogos, antropólogos e até dos críticos de cinema). E, claro, do ICA (que esse por pudor não existe).
Apesar de tudo - nós por cá todos bem!


Fernando Lopes (Realizador)

in cinecartaz.publico.pt

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